sexta-feira, 16 de outubro de 2009

-Injusto? Achas que é isso a injustiça? Então, meu amigo, ainda não viste nada…respondeu um peixe-palhaço que estava encostado ao balcão a beber um cocktail de frutos do mar.

Muito intrigado o nosso amigo perguntou se naquele sítio havia injustiças mais graves.

Nova risota geral.

Já sem paciência a empregada jeitosa mas mal-humorada explicou que:

-É claro que há injustiças bem mais graves. Olha, por exemplo, os roubos, todos os dias há assaltos a lojas e às casas das pessoas. Olha, eu já fui roubada em plena luz do dia!

O caranguejo roxo "de fúria" empalideceu ao ouvir aquelas palavras.

-Eu não posso acreditar. Roubos? Mas eu pensei que isso só acontecia no cinema.

-No cinema? - Gritou um tubarão que tinha uma venda preta a tapar-lhe um olho, porque era um tubarão-pirata. -Donde vens tu pobre pequeno? Do Planeta da Justiça?

-Sim. - Disse o nosso amigo esperançado. -Conhecem?

Fez-se um silêncio terrível.

-Tu vens mesmo do Planeta da Justiça? - Perguntaram todos a uma só voz.

-v-v-venho… - Gaguejou o pequeno que estava a ficar com muito medo daquele lugar. - Conhecem? - Repetiu.

-Bom, a minha mãe falou-me desse sítio, chamava-lhe a Terra Prometida. Um lugar onde não existe crime, onde não há injustiça! Um lugar de sonho! - Suspirou um velho polvo do mar.

-Eu também já ouvi falar de um sítio assim, mas pensei que fossem lendas, contadas por velhos marinheiros humanos e sereias. Seres encantados que contam fantasias…pfff! - Resmungou o tubarão da venda, sem conseguir esconder a sua admiração.

-Não, não são lendas. O Planeta da Justiça existe mesmo. E é um lugar maravilhoso. - Disse o caranguejo, já cheio de saudades de casa. E durante muito tempo só se ouviu a sua voz melodiosa a contar como era a vida na sua terra.

À sua volta havia cada vez mais peixes, polvos, cavalos-marinhos, barracudas e tubarões. Todos os animais do lugar estavam atónitos com as histórias que o nosso pequeno amigo contava.



Naquela mesma tarde os novos amigos do caranguejo levaram-no a conhecer o Tribunal e a Prisão.

O pequeno nem queria acreditar no que os seus olhos viam, nem nas palavras que ouvia. Contaram-lhe histórias de grande injustiça e o caranguejo roxo “de fúria” estava muito triste.

-Não quero ficar aqui nem mais um instante. Preciso voltar para a minha terra. Isto é tudo muito injusto!

-Eu se vivesse num lugar como o teu planeta nunca de lá sairia. - Disse um polvo muito irritado.

-Bom, eu só queria conhecer o resto do mundo.

-Pois, agora que já conheces, pequeno, volta para o teu lugar. Não há sítio melhor para se viver. És um sortudo! - Disse um dos tubarões, enquanto lhe passava uma barbatana pela carapaça.

-Sim; acho que é melhor ir embora. A minha mãe já deve estar preocupada.

Nesse instante ouviu-se um barulho terrível e aparecem vários polvos montados em potentes cavalos-marinhos.

-Fujam! São os polvos-ladrões! Vêm ao cheiro da sardinha, outra vez.

E desataram todos a fugir. O pequeno caranguejo roxo ficou muito admirado e cheio de medo. À sua volta havia uma grande confusão, com todos os animais a correr para se esconderem.
As pobres sardinhas saíram a nadar tão rápido que quase pareciam voar.


O caranguejo roxo “de fúria” correu e nadou. Nadou e correu com quantas forças tinha, até chegar à entrada do seu planeta.

- Já de volta amiguinho? - Perguntaram os guardas quando ele apareceu a nadar velozmente.

Ainda ofegante e sem conseguir falar o nosso caranguejo deu um abraço apertado a cada um dos tubarões que, como não estavam nada habituados a manifestações de afecto, coraram até às guelras.

-Estou tão feliz por estar aqui! - Suspirou o nosso amigo e apressou-se a juntar-se à sua família.


Durante semanas não se falou noutra coisa no Planeta da Justiça. O nosso amigo foi considerado um verdadeiro herói. Narrou a sua aventura inúmeras vezes, principalmente em noites de tempestade, quando os seus ouvintes sentiam mais medo. Algumas sardinhas até desmaiaram quando ele contou o ataque dos polvos-ladrões.

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