sábado, 16 de fevereiro de 2008

Foi nas vindimas...

O que podia fazer, efectivamente, com a realidade? É que acontecia mesmo, acontecia de facto, conseguir dizer a si mesmo, naquele segundo, que aquele segundo, pela felicidade infinita que lhe dava e que ele sentia plenamente, poderia, com muita probabilidade, valer toda uma vida".


"O Idiota" de Dostoiévski.


Outubro. Sábado. O dia fresco começa já a nascer por detrás das montanhas. A luz ainda ténue do amanhecer banha com uma suavidade dourada a pequena aldeia adormecida.
A porta da pequena casa branca range ao abrir e Luz aparece na soleira ainda estremunhada mas já lavada e composta. Em poucos segundos percorre a chinelar os metros que separam a habitação dos estábulos. Lá dentro, por entre a palha descansam uma égua, um macho e uma vaca.
Com o balde já preparado, a mulher puxa mecanicamente pelo banquinho de madeira, senta-se e procura por entre as pernas da mansa “menina” os tetos que encontra retesados de tanto leite. Vai manobrando um a um e o leite esguicha com força espumando no balde.
Enquanto bebe o leite ainda quente da vaca, Luz suspira e deixa o pensamento correr... a imaginação foge ao encontro do marido que anda lá longe a ganhar a vida e a deixou só ali, com uma quinta para governar. Uma mulher na meia-idade, sem filhos, não porque não os desejasse, mas devido a problemas de saúde do homem com quem casara, esse era um desejo sem concretização possível. Agora, também já não importavam os filhos, esse tempo já tinha passado. Era mesmo a falta do homem o que mais a incomodava.
Morena, roliça, com um peito que tirava do sério qualquer homem da aldeia, sem escolher idades, era contudo a sua sensualidade de mulher terrena, do campo, que mais enlouquecia a população masculina da terra, mesmo que estivéssemos só a falar de um par de velhos com mais de 80 anos, dois ou três entre os 60 e os ditos 80. Ela via-os a no lagar, a pisar a uva, sem calças, e soprava o calor que sentia, por entre o cheiro a mosto e as cantorias. Havia o homem da Marcolina que se fez teimoso e não abandonou a terra, nem a casa, nem a mulher. Ah, e havia o Abel do café e…o filho! Rapaz a rondar os 30 anos, acabado de chegar de uma vida desvairada na universidade, andava há que tempos para terminar o curso. Estava de passagem pela terra, com certeza para pedir mais dinheiro ao pai. “Só enquanto procura trabalho, que isto não é lugar para ele, era só o que mais faltava” costumava dizer a mãe dele, com quem Luz se encontrava aos domingos, depois da missa. Ai, o Tomás.. Já o tinha espreitado pelo canto do olho muito disfarçadamente porque se as velhas beatas, sabidas e desconfiadas, a topassem, era um “ai” até cair na boca da aldeia.
Enquanto tratava dos animais, a mulher ia pensando nisto e de forma inconsciente foi passando a mão pelo corpo, os seios fartos, a cintura fina de quem nunca pariu, as ancas bem largas que faziam dançar a saia e as coxas roliças e morenas. O pensamento fugiu de novo para o rapaz, voltou a suspirar e confessou-se: “Ai se eu lhe pudesse deitar a mão, nem que fosse só uma vez! Ao diabo com o homem que está lá longe e quem sabe o que andará a fazer, ora... homens… está bem, está. Ai, que pecado! E as velhas? Ora se tudo fosse bem feito, se nunca desse motivos para desconfianças...” e enquanto assim matutava a mulher foi andando para casa. Era o tempo das vindimas, por todo o lado havia gente a trabalhar, tractores cruzavam os caminhos a caminho da adega, lá na vila. Também ela tinha de começar, não tinha mãos a medir. Logo depois do almoço Luz saiu preparada para as vinhas. Trazia uma saia rodada escura e uma camisa framboesa. Na cabeça, a prender-lhe os cabelos um chapéu de palha. Lá andava ela com a tesoura de podar encavalitada no escadote quando o viu chegar. A mulher parou meio assombrada... mas será que é mesmo ele? Quem mais havia de ser Maria da Luz? Novo, com aquele corpo? Dizia-lhe uma voz escarninha junto ao ouvido. Trémula, viu-o aproximar-se. Boa tarde, vim da parte do meu pai, que me mandou dar-lhe uma mãozinha…a voz do rapaz soava como uma bigorna aos ouvidos de Luz.
Que sim, disse-lhe, que estava agradecida, que fosse tratando das vinhas mais abaixo que ela lá ia tratando destas e tal…
A tremer, com o coração aos pulos, apesar do suor que lhe escorria como um rio colando-lhe a camisa aos seios, a mulher foi espiando o Tomás por entre a folhagem das parreiras, não lhe perdendo os movimentos. Era alto, suspirava, era moreno, arfava, ai, as mãos eram belas, branquinhas, mãos sem calos, de quem nunca trabalhou no duro…e então... ó desgraça, o rapaz despe a camisa e expõe umas costas magníficas... o sol a dourar-lhe a pele, os cabelos curtos encobertos pelo boné…. vou buscar de beber… trago para si também. Que sim, que sede, que está calor..
Se está, murmura a mulher, com um fogo que nunca sentiu antes a devorar-lhe as entranhas. Maldito sejas Abel, que mandaste o diabo para me tentar, a mim pobre mulher que não me passa homem pelas beiças há mais de um ano, que dava tudo... mas tudo para ter aquele homem... mesmo que o amanhã não existisse para mim…
Espera… sente-se agarrada por trás… dois braços jovens, nus, que a fazem estremecer. Julgas que não reparei no teu olhar? Diz que não queres. Oh, Tomás, digo o quê? E a mulher enlouquecida deu por si nos braços daquele homem que tanto desejava. A respirar o mesmo ar, a sentir o sabor salgado do suor dele. Ali, no meio da vinha, protegidos pelas latadas cúmplices.
Atirou-a contra o pilar. Atirou-se a ela. Agarrou-a, beijou-lhe o pescoço, as mãos desceram para o peito, seguraram aqueles seios firmes, as nádegas e as coxas roliças e uivou de prazer. Luz estava num estado comatoso de tanta excitação. Nua, exposta, viu-o baixar as calças e ficar nu diante dela e.. sem pêlos. Ébria de prazer, ajoelhou-se, tomou-lhe o sexo entre as mãos e beijou-o, deliciou-se a percorrê-lo com a língua, meteu-o na boca, chupou-o, uma, duas, três vezes, sabia a homem misturado com o sabor doce e pegajoso das uvas nas suas mãos. Deleitou-se com os gemidos dele… mais não… anda cá… pediu ele. Ergueu-a, ajoelhou-se, e ela sentiu-lhe a língua a abrir caminho dentro de si, a enlouquecê-la. Gemeu, abafou um grito na curva do braço, arqueou as ancas de encontro à boca dele, enquanto o seu corpo se agitava em vagas de prazer demorado, tão desejado. Quando sentiu o suco dela na boca, Tomás não perdeu tempo e entrou nela de uma só vez, por trás, profundamente. Entre sussurros e gemidos cavalgou-a, mostrando-lhe com toda a sua virilidade quem mandava, mas quem mais gozava era ela. Luz gozou uma e outra vez e, mesmo quando, mais tarde, depois do jovem ter juntado ao dela o seu prazer, Luz ficou-se a deslizar pelo pilar, a fitar o céu consolada, incapaz de se mexer, com o fogo apagado e a pensar.. mesmo que tudo se saiba... mesmo que caia em desgraça... valeu a pena… valeu realmente a pena este momento… e não o trocava por nada.

Dias depois quando foi encontrar, no estábulo, o macho a cobrir a égua, parou a observá-los. O animal com os músculos retesados, viril, de grande porte e a fêmea que o recebia, submissa, gozando em ter um macho daqueles só para ela. Luz acercou-se dos animais, afagou a fêmea e sussurrou-lhe: “É bom, não é”? Todos os animais gostam…
muito querida + carpe vitam! + QJ

16 comentários:

cheiodetesao disse...

Olá muito querida.

"Descobri-te" lá no meu blog, na carta da Geninha. :)

E gostei de vir aqui.

:)

cheiodetesao disse...

Afinal "encontrei-te" noutro post. :)

Não voltes só amanhã, volta sempre.

:)

afectado disse...

Boa leitura para um fim de tarde chuvoso de domingo :)

MIG-L disse...

Muitos, mas mesmo muitos parabéns pelos magníficos textos. São da vossa autoria? Adorei as descrições, a prosa soberbamente redigida e... voltarei.

Um beijo.

muito querida disse...

nm: sim, todos os textos aqui publicados são nossos, dos três ou de qq um de nós em particular.

Ficamos mto contentes que tenhas gostado e..sim..volta, a casa é tua.

beijos quentinhos

carpe vitam! disse...

nm, os textos são todos originais, quase todos da autoria da muito querida. Este é também dela, com algumas colheradas minhas e um bitaite à QJ. Todas as citações e autores estarão sempre devidamente identificados.
Volta sempre!

MIG-L disse...

Obrigado eu.
Kisses!

Unknown disse...

como por esse carpe diem em acção se estamos sós ?

carpe vitam! disse...

Luis, aproveitar o dia é um passo dado na direcção de aproveitar a vida. é impossível aproveitar tudo, por isso o que importa é que o saldo seja positivo!
Mas vai passando por aqui, vai alimentando o teu espaço simpático que certamente não te sentirás só ;-)

luafeiticeira disse...

Acabei de conhecer o blog graças a comentário que deixaste nomeu; acabei de ler este texto e deixa-me que te diga, estás de parabéns. Adorei, vou ler mais, mas não agora, terás de mudar as cores :-) A sério, este lilás sobre amarelo torrado deu-me cabo dos olhos.
Posso linkar-te?
Beijos

MIG-L disse...

Banhos? Volta quando quiseres. Sempre bem vindos.

Beijitos

JCA disse...

nunca vindimei numa latada... mas assim até que é bem bom :-)

Sofia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
carpe vitam! disse...

Luinha, já te fizémos a vontade, vês? não queremos que deixes de vir por problemas de legibilidade. Gracias pela crítica que nos permite melhorar.

(muito querida, o teu lilás querido ficará guardado para os teus orgasmos e para alguns posts especiais, ok? ;-))

qj, é preciso escadote, enquanto que numa vindima normal se fica com dor de rins, nas latadas ficas com dor de pescoço! ;-)

Sleeping Angel disse...

bem gj sa somos 2 tambem numca vindimei numa latada mas k deve ser algo dantastico la isso deve hi hi abraços sleeping angel

Marinheiro Solitário disse...

De vez em quando sabe-me bem o cheiro a terra. Misturado com todo esse cio, só pode melhorar.

Tá-se bem neste "Porto"