domingo, 10 de fevereiro de 2008

Querido editor: as palavras que nunca te direi II

A nossa redacção é uma extenção da vida de cada um de nós. Eu divido uma grande mesa com mais três colegas, cada um com a s suas fotos, as suas agendas, os calendários,os seus post-its, as chaves dos carros e muitas folhas, escritas, assim-assim e outras em branco.
A tua mesa de trabalho, central, é uma amálgama de cores..livros, revistas, agendas, muitos cd´s, muitas anotações e uns quantos telemóveis. A um canto, mas a ocupar lugar de destaque, uma moldura em bambu mostra uma mulher morena e dois garotos. A tua mulher e os teus filhos, numas férias passadas na neve. A mulher da foto sorri. E eu gosto dela, gosto de olhar para ela, apreciar-lhe o sorriso e imaginá-la feliz ao teu lado. Há uma outra mais pequena que te retrata equipado para esquiar, com uma paisagem gélida por trás. Gostas da neve. Vais sempre. Eu gosto dos trópicos, gosto das praias, amo o sol e o calor, estender-me sobre a areia só de tanga e mergulhar em águas azul turqueza e quentes. Detesto o frio e a neve deixa-me os dedos dos pés arroxeados e sinto-me como um pato com o fato próprio para o frio, a travar-me os movimentos. A neve contagiou o pessoal do jornal, todos vão para as estâncias de Inverno, para sítios diferentes, em grupo, com namorados, maridos e mulheres, amigos ou família.

Eu fico. Ando ocupada com um novo namorado. Ando a descobri-lo entre jantares bem regados e noites bem passadas. Ando entretida, muito envolvida. Tenho-me esquecido de ti, o meu corpo anda anestesiado de novas sensações. Estou calma, apaziguada.

Até que, uma destas manhãs, chego à redacção a deitar os bofes pela boca, cansada de tanta correria, esbaforida com a agenda de trabalho que tenho entre mãos e..então..estaco, pasmada.

Um mar de gente à tua roda, todos a espreitarem e a apontarem para um mapa, eu vou pra ali, e eu pra acolá..e tu:

-Este ano vou para aqui, olhem, é um sítio pequeninho, muito sossegado.

Todos se debruçaram para fitar o minúsculo ponto no mapa, até a Fátima (o que está ela a fazer ao teu lado, anyway?) e eu senti o chão a fugir-me debaixo dos pés.

Com uma sensação de profundo pesar fui sentar-me diante do meu "fiel amigo" e lancei-me ao trabalho indiferente aos vossos planos, aos vossos projectos, aos vossos anseios.

O Zé estranhando o meu silêncio perguntou-me se eu não ia a lado nenhum. Respondi-lhe que não tinha tempo nem dinheiro, mas com tão maus modos que tu não resististe e perguntaste sarcástico:

-É um mau dia miúda? Estás cá com um azedume!

Olha quem fala, cabrão. Penso. Resmungo entre dentes uma desculpa qualquer e atiro-me ao computador como uma doida alucinada. O rastilho do desejo aceso de novo a abrir crateras dentro de mim. Agora que sei que não vais estar por perto três ou quatro dias.Alteras assim o sentido dos meus dias sempre iguais, a saber do teu poiso, a saber o que fazes, a ter-te à mão, nem que seja só para te ver. E agora? A minha bílis descarrega quantidades industriais de um líquido sulforoso que me envenena as entranhas. Sinto-me doente de tão triste.

E é então que me surge uma ideia fabulosa. Se eu até sei como se chama a terriola para onde vais fugir...porque não arrastar a minha nova aquisição precisamente para o mesmo sítio..a pretexto de um fim de semana na neve? Pois...

São nove da noite. Eu e o Luís estamos às voltas com a tralha, à porta do meu prédio. Calhou muito bem a Opel Astra novinha do Luís. Dá para meter lá tudo. Cobertores e caixas de mercearia. Muita tralha para a neve, cd´s e livros para mim. O portátil, sempre.

A reserva foi assim assim de conseguir e como temos cozinha fica mais barato.

Fazemo-nos à estrada e vamos ganhando o Norte. Ao tempo que eu não via o Porto. Sempre para Norte. Entramos em Espanha e continuamos.

Cá estamos. Chegamos tardíssimo, ainda andamos às voltas até encontrar a casinha, pequeninha, com muita lenha no alpendre. Fizemos a cama e, mais tarde, debaixo dos cobertores e do edredon que trouxemos, ainda deu para trocarmos uns carinhos. Coisa pouca, estávamos cansados.


22H. Estou deitada, acordada,a sondar o insondável que eu sou. O Luís dorme ao meu lado. Comi-o como uma louca, como se não houvesse amanhã. E tudo porque hoje, bem cedo, dei de caras contigo.

Enquanto o Luís se atirava por montes e vales deliciando-se com a neve, eu arrastei-me até à pequena mercearia/tabacaria/papelaria da aldeia para comprar pão..e jornais.

E então lá ao fundo a escolher cigarros..estavas tu. Sozinho. Com um saco de pão e dois jornais.

A tua surpresa...misturada com um sorriso de carinho:

-Tu aqui! Então tu não és toda virada para as praias tropicais?

Pois, coincidências, calhou e tal, vou dizendo. E tu embalado..que estás a adorar, que os garotos andam loucos com a neve, que o hotel é muito bom, que tens de ir andando, e tal.

Eu que aproveitasse para descansar, que não andasse em grandes farras...

Tudo dito com essa voz grave, rouca, marcada pelo tabaco e com malícia.Tu a caminhar para a saída e eu ali, parada, a planar...anestesiada porque te vi longe do jornal, noutro contexto, e gostei ainda mais.

Passei o resto do dia num torpor que não sei explicar, farta de tanta neve, enregelada, com o nariz a pingar e só me senti um bocadinho mais reconfortada quando, à noite, o Luís ateou um grande fogo e cozinhou um excelente jantar. Comemos, bebemos e caímos na cama, abandonando-me nos braços do meu novo namorado, que é uma amante fabuloso. Imaginei mil fantasias, tudo porque te vi de manhã com um saco de pão na mão e dois jornais debaixo do braço!

Com o fogo apagado aqui na cama, fito o tecto e vou delirando nesta febre que me consome as entranhas.

Imaginar...


Nós os dois, o edredon, a manta de pêlo e as almofadas. Em frente à lareira, na sala, no chão. Os copos de vinho tinto delicioso que vamos bebericando, as chamas que tremeluzem na escuridão iluminando os nossos corpos nus. O cigarro que atiras ao lume para receber o meu beijo demorado, lânguido. Os meu braços que te rodeiam, o abraço que nos une e torna tudo tão excitante. O teu corpo que eu percorro com a minha boca, sem esquecer nenhum pedacinho até chegar ao teu sexo e aí demorar-me com a minha língua a descrever círculos, a abocanhar-te e a lambuzar-te. O som da música de fundo e os teus gemidos roucos. A forma como me preparas para te receber. O toque das tuas mãos experientes subindo pelas minhas coxas, abrindo-as, até chegar ao meu sexo que acaricias lentamente, com mestria. Um dedo explorador que me arranca suspiros. Dois dedos dentro de mim abrindo caminho, fazendo-me transbordar, derrubando as minhas defesas, acendendo em mim um desejo que me deixa trémula. Deitas-te, puxas-me para ti. Subo, procuro o teu sexo e dirijo-o para mim. Entras como uma luva e eu encosto as minhas mamas aos teus lábios. Seguras-me pela cintura e conduzes-me, marcas o ritmo. Estou em cima de ti, balanço-me, sinto-te fundo dentro de mim. Ofereço-te os meus mamilos que tu sorves, lambes e saboreias e isso entontece-me.Rouquejamos. Balanço-me mais forte e tudo explode à minha volta. Mil cores na minha cabeça. Tu sentes o meu prazer, viras-me num gesto rápido, abres as minhas pernas mais ainda e começas uma dança de movimentos rápidos e precisos. Eu aperto-te e olho-te enquanto me cavalgas, de olhos fechados, lábios entreabertos soltando gemidos. Cravo-te as unhas nas costas ao sentir-me arder uma vez mais. Arqueio a minha anca contra a tua. Gritas. Aumentas o ritmo e sinto, no fundo de mim, o choque que percorre todo o teu corpo. Libertas o teu prazer enquanto gritas sem pudor,ao meu ouvido, como é bom, como te excito, como gostas do meu corpo.

Mais tarde delicio-me a apreciar o brilho das chamas da lareira a iluminar a nossa cama improvisada e os nossos corpos saciados, o vinho tinto esquecido nos copos...

Se tu conseguisses perceber a loucura da excitação que sinto por ti, querido editor..

9 comentários:

afectado disse...

Depois de ler o post, qualquer um fica com vontade de ir para a neve, apesar de também preferir a praia :)

Marinheiro Solitário disse...

Estamos mais interessantes de texto para texto. Gosto dos ambientes em que nos envolves...

Red Light Special disse...

Fiquei presa.. tão presa na tua narrativa.
Pergunto-me se a história é ou não verdade, a ser... tens a vida temperada como gosto.. precisamente como tempero a minha... com bilis e paixão à mistura, com intensidade e amor.
Gostei! Muito!
Continua!!!

Anónimo disse...

tenho de dizer que é uma escrita que me atrai!

As Chamas do Fénix disse...

Venho retribuir a tua visita e dizer-te que tens um espaço muito agradável... vou voltar com toda a certeza...

Uma Grande Chama para ti


PS: Escreves bem

Cadinho RoCo disse...

Só acredito neste editor enquanto personagem abstrato fictício e incapaz de dar à lareira dos acontecimentos,lenha em brasa a encher-te de autêntico calor.
Cadiho RoCo

As Chamas do Fénix disse...

Esqueci-me de dizer... também gosto muito dos teus ténis

Uma Grande Chama para ti... Beijos

muito querida disse...

ai cadinho roco talvez tenhas razão quanto à incapacidade do dito cujo em dar lenha em brasa aos acontecimentos..mas que ele existe..lá isso..

(suspiro)

beijos quentes

JCA disse...

gostava de saber o que há contra a praia e o sol? uma bela praia de areia clara, e mar calmo, uma pequena cabana junto ao mar...

neve, frio, bem sempre é uma boa desculpa para duas pessoas se aproximarem e aquecerem-se...

beijos provocantes